Quer um exemplo? Tome a preparação de uma apresentação. O sucesso de sua apresentação depende da sua capacidade de criar algo que seja adequado à plateia que estará presente. E você já sabe disso. Mas como você poderia criar algo específico para um determinado público sem imaginar como elas poderiam reagir a uma piada, a uma imagem, ou até mesmo, às suas roupas?
No processo de treinamento de apresentações sempre peço que meus clientes me descrevam para quem estão falando. Muitas vezes estamos preparando uma apresentação de vendas em que a platéia não é maior do que uma ou duas pessoas; é para uma reunião. Já fizemos uma análise de marketing e nesse ponto já sabemos quem poderia estar ali, sentado na cadeira. Mas na hora do ensaio, quando peço para dar uma “cara” pra esse sujeito imaginário que será impactado por aquele roteiro preparado com tanto cuidado, a coisa complica um pouco.
É difícil olhar para uma cadeira vazia e imaginar ali o seu João, com seus sessenta e poucos anos, cabelos pintados de castanho para manter um ar jovial, casado com a dona Rosa, pai de duas meninas e um rapaz. A filha mais velha mora há 10 anos no exterior, é casada e ele tem uma netinha, chamada Rose, em homenagem à avó. A filha do meio trabalha com o seu João na empresa, e o rapaz está fazendo intercâmbio na Austrália. Seu João tem um metro e setenta de altura, está fazendo academia porque está um pouco acima do peso, gosta de relógios antigos e hoje veio para o escritório trajando calça e paletó cinza-chumbo, e camisa social azul-claro sem gravata.
Espero que você tenha conseguido formar em sua mente uma imagem rica do seu João. Você deve tê-lo imaginado sentado em uma cadeira, então provavelmente imaginou também a mesa, a cor das paredes, o tamanho da sala, e talvez consiga descrever a forma como a luz da janela cria sombras sobre a mesa. E, se imaginou tudo isso, deve ter alguma noção do horário em que esta cena acontece. Espero que muitos outros detalhes tenham sido acrescentados sem a minha ajuda.
Muito bem. Agora com essa cena viva em sua cabeça, você deve estar se perguntando: Por que, afinal de contas, preciso contracenar com um sujeito imaginário pra preparar uma apresentação? Bem, na verdade, você não precisa (Mas ajuda!).
É muto fácil falar com um amigo que você conhece há trocentos anos. É difícil falar com alguém que você nunca viu antes. Ao transformar o cliente em personagem, você o aproxima de alguém com história de vida, paixões, medos e personalidade, exatamente como são os teus amigos. Fica mais fácil criar empatia, pensar nas coisas que você deve dizer a ele, e entender os problemas que ele está enfrentando.
E não estamos falando só da visualização de um personagem-cliente: imaginar diferentes cenários e possibilidades para sua apresentação é um treino para o cérebro. E, também, é uma forma de criar repertório para lidar com problemas e descobrir formas mais interessantes de se comunicar. O ensaio é a parte mais importante da apresentação porque te permite refinar o roteiro, trazer novos elementos e descartar aquilo que parecia uma boa idéia no começo mas que, na prática, irá entediar os espectadores.
E quanto mais elementos você puder trazer para o ensaio (incluindo a ilustre presença imaginária do seu João), mais enriquecedora será a sua experiência.