Na semana passada a Rede Globo exibiu um vídeo durante o Jornal Nacional explicando como funcionará a vacina da Pfizer para combater a pandemia do novo Coronavírus.
O vídeo explica como o vírus invade as nossas células, como funciona a produção de anticorpos e a atuação das vacinas que possuem RNA mensageiro. Tudo isso em apenas 3 minutinhos!
Não é meu objetivo discutir sobre a vacina ou sobre qualquer aspecto relacionado à pandemia (A imagem de capa foi clickbait? Talvez sim, talvez não…), mas como essa apresentação na forma de animação ficou bem boa quero compartilhar com vocês o que vi de interessante e que pode ser aplicado no nosso dia-a-dia.
Começando pelo famoso storytelling:
Quem não gosta de uma boa história? A narrativa da invasão e da defesa do nosso corpo traz elementos da Jornada do Herói que cativam e prendem a atenção da audiência do começo ao fim. Temos o “mundo comum”, “incidente incitante”, “provações, aliados e inimigos”, “aproximação do objetivo”, “mais provações” até chegar na “recompensa” e o “caminho de volta”.
Além disso, para explicar a ação do vírus e das células de defesa, William Bonner – que narra toda a jornada – se utiliza de analogias com elementos do cotidiano (chave / fechadura, especialistas em inteligência, receita, etc.) para facilitar o nosso entendimento.
Amarrar sua apresentação com uma história, seja ela real ou fictícia, é uma excelente forma de fazer com que as pessoas se lembrem daquilo depois. Isso porque as histórias (e com elas as analogias e outros conteúdos emocionais) mexem com a nossa imaginação e com as nossas memórias, atribuindo novos significados ao repertório que a audiência já possui.
Não conte, mostre!
Essa frase, de um livro de Viola Spolin sobre jogos teatrais, se tornou uma regra de ouro para mim.
Para contar algo, você não precisa de emoção. A “voz do Google” pode te contar sobre os resultados dos jogos de futebol da semana passada, assim como uma pessoa desinteressada (ou apenas pouco habilidosa) pode fazer você morrer de tédio ao ler um pequeno conto de Arthur Azevedo. Ao passo que esse mesmo conto, se narrado por alguém entusiasmado ou encenado por bons atores pode fazer você se transportar para o Rio de Janeiro do começo do século XX. Para MOSTRAR você precisa provocar emoção, senão a pessoa vê mas não enxerga, sabe?
E, para isso, nada melhor do que BOAS IMAGENS. Essas boas imagens podem ser recursos visuais, como a caprichada animação 3D que o Jornal Nacional apresentou, podem ser slides impactantes, uma identidade visual com forte embasamento simbólico, uma dramatização caprichada ou, apenas, um enredo bem-construído e narrado com boa expressividade. Isso porque as imagens que precisam se cristalizar na memória da audiência não precisam vir, necessariamente, de fora: as imagens que a sua audiência construir com você serão mais perenes do que um apanhado de imagens expostas sem critério algum.
Quando estiver diante da sua próxima apresentação, procure revisar o seu roteiro para criar experiências e momentos em que essa construção visual ocorra ou se cristalize na sua audiência.
Menos, porém melhor.
Essa frase aí é do designer alemão Dieter Rams, e é outra regra de ouro por aqui. Eu sei que você sabe bastante coisa da tua área. Eu sei que você tem exemplos mil, histórias mil e quer compartilhar tudo isso com as pessoas. Mas, segura… dá uma maneirada aí por três motivos:
- Primeiro que as pessoas querem solução, alívio rápido. Se a explicação for longa demais é bem provável que elas busquem alguém que prometa resolver em menos tempo, e com menor esforço por parte da audiência. Goste ou não é a realidade.
- Segundo que você precisa entender o nível de maturidade da sua audiência em relação ao assunto que você vai tratar. Eu não sou cientista, mas sei que a produção de anticorpos é apenas uma parte da resposta do nosso corpo a uma infecção viral. Um monte de coisa deve ter ficado de fora desse vídeo, e tá tudo bem! O Jornal Nacional conhece bem o perfil da sua audiência. Conhecer o público influencia na complexidade da sua abordagem e também na linguagem – veja como o uso de analogias facilitou a compreensão.
- Terceiro que o nível de detalhamento das suas apresentações vai depender da posição do teu público no teu funil de vendas (ah, e toda apresentação é uma venda sim… nesse caso a ideia foi “vender” que o uso de vacinas – sobretudo as que usam o RNA mensageiro, como a da Pfizer – é seguro). Pensa comigo: Se a pessoa tá lá no topo do funil, é mais ou menos como aquela pessoa que entra na loja “só pra dar uma olhadinha”. Você não vai sair detalhando tudo sobre aquele produto – a menos que ela pergunte. Então tudo que você precisa fazer é criar oportunidades para que ela queira perguntar e saber mais. À medida em que ela vai avançando no funil, você irá fornecer mais e mais informações, para que possa fechar a venda com você com segurança e apaixonada pela solução!
Uma boa apresentação exige uma certa dose de planejamento para atingir os resultados esperados. Não apenas contar, mas MOSTRAR boas histórias valorizando o tempo e a disponibilidade da sua audiência é garantia de sucesso!
Você assistiu a esse vídeo da Rede Globo? Comente o que você achou e compartilhe comigo outros insights sobre boas apresentações e boas histórias!
—–
A imagem de capa é de um tutorial do ilustrador Anup Kumar Acharjee. Se você quiser pode aprender como ele fez clicando aqui.