Há alguns anos a temática da acessibilidade tomou conta dos eventos de RH. Felizmente parecia que o assunto havia não apenas caído no gosto das empresas, como estava sendo amplamente discutido, dando voz a quem sempre teve dificuldade de mostrar a que veio.
Confesso que o tema em si nunca me chamou muita atenção. Como designer sempre tive algumas preocupações em trazer experiências que fossem igualmente aproveitadas por todos, mas é claro que muitas dessas preocupações se limitavam a um conhecimento leigo e pautado puramente pela minha boa intenção e por alguns princípios de design que tornam a criação mais universal, na medida do possível.
Em 2019 fui convidada para ministrar uma oficina de Pitch para a comunidade (pais, professores e colaboradores) da ABADS (Associação Brasileira de Assistência e Desenvolvimento Social – uma instituição que atende pessoas com transtorno do espectro autista). Foi a primeira vez em que eu soube que havia uma pessoa com deficiência visual na plateia. E a minha oficina não estava preparada para isso. Naquele dia, com o radar ligado nos problemas da minha proposta, também percebi que a plateia, que me via e ouvia normalmente, teve dificuldades de enxergar muitas das coisas que estavam nos slides: o contraste das telas que eu preparei com tanto capricho era incompatível com a luminosidade e disposição da sala.
No fim, os problemas foram contornados e a avaliação de reação pós-oficina foi positiva.
Mas algumas perguntas ficaram ecoando na minha cabeça: o que eu poderia ter feito de diferente para proporcionar uma melhor experiência aos participantes? O que eu faria se tivesse que explicar aquela experiência para um surdo?
Desde então, tenho procurado criar soluções mais inclusivas nos meus treinamentos e apresentações. Realmente cem por cento inclusivas e universais? Não, confesso que não. Uma pessoa com perda total da visão jamais poderá ver os materiais que eu produzo e aproveitar tudo que eu, como designer, consigo produzir. Mas eu preciso garantir que uma pessoa de idade mais avançada ou com algum grau de comprometimento na visão consiga ver e interagir com esses mesmos materiais que eu me propus a produzir. Uma pessoa com surdez total não irá ouvir o que eu tenho para dizer, mas uma pessoa ouvinte precisa me entender, certo? E, na medida do possível, devemos propor alternativas para quem não pode receber aquele conteúdo através da visão ou da audição, por exemplo.
Estudando sobre o tema, descobri que o design digital, voltado a interfaces, recebeu um bom avanço de inclusão graças à tecnologia. Para quem está no modo analógico, as soluções de design requerem um pouco mais de cuidado e criatividade.
Isso porque estamos falando de experiências.
Uma audiodescrição não é a mesma coisa do que ver – e sentir – o impacto de uma imagem, enquanto que a narração de um texto escrito pode não gerar qualquer alteração na experiência.
O uso de legendas em um vídeo não se equipara a ouvir a voz – e a emoção nas palavras.
Mas ajuda. Principalmente se as pessoas estão apenas com alguma dificuldade de ouvir com clareza o áudio em questão – e nem precisa ser por conta de algum tipo de deficiência. Às vezes a deficiência está no ambiente e não na condição física dos indivíduos.
E o ambiente, esse sim, temos muito o que fazer para torná-lo mais inclusivo!
Em um desses eventos de RH em que estive há alguns anos havia uma palestrante com deficiência motora, Pois bem, não havia rampa para que ela pudesse acessar o palco! A mulher não teve dúvidas: fez a palestra no chão, no nível das cadeiras dos participantes. E eu, que estava sentada mais ao fundo, quase não consegui vê-la. Se não foi uma boa experiência para mim, imagine para ela…
Em outro evento assisti uma palestra sobre a inserção de idosos no mercado de trabalho. O texto dos slides era tão pequeno que nem a palestrante conseguia enxergar na tela de retorno…
Exemplos como esses são comuns e demonstram que, embora a acessibilidade seja uma pauta relevante atualmente, ainda há muito a ser feito.
É impraticável universalizar todo o design de todas as soluções. Por mais belo e moral que seja, é inviável reformar todas as salas de treinamento e exigir que todos os materiais escritos tenham uma versão em braile, que todas as palestras tenham um intérprete de libras e que todas as imagens estejam acompanhadas de audiodescrição. Teríamos uma produção de conteúdo muito mais restrita que nem assim atenderia à todos e, no fim, menos pessoas teriam acesso ao conhecimento.
O que devemos buscar é que sempre mais pessoas sejam acolhidas por nós, facilitadores e educadores.
Dentro da minha área de atuação, como designer, uma das minhas maiores preocupações é reduzir o esforço cognitivo dos participantes quando esse esforço não faz parte dos objetivos de aprendizagem. Baixo contraste entre o texto e o fundo, letras pequenas ou muito finais ou, ainda, blocos de texto pesados e sem arejamento são alguns exemplos de impecilhos que, simplesmente, poderiam não estar ali.
São pequenas coisas que aparentemente fogem do escopo quando se fala em acessibilidade, mas que podem fazer muita diferença na inclusão e na aprendizagem de todas as pessoas. Por isso é importante a discussão e o compartilhamento de ideias e soluções. Por isso diferentes profissionais, com diferentes pontos de vista sobre o tema, precisam contribuir com a sua experiência na criação de materiais que alcancem o maior número de pessoas com qualidade.
E você? De que forma tem buscado tornar seus materiais mais inclusivos?