Certa vez, há muito tempo atrás, em uma galáxia muito distante…. – não, esta é a introdução de Guerra nas Estrelas… mas, substituindo galáxia por localidade vai servir… – estávamos inaugurando nosso pequeno restaurante: A Cantina dos Amigos. E minha sócia na época, uma cozinheira mineira de mão cheia, soltou a seguinte frase: precisamos contratar a Cida, ela tem expediente.
Foi a primeira vez que ouvi a palavra expediente com este significado de habilidade e destreza. Habituado a escolher, treinar e qualificar pessoas para diversas posições, e conhecendo a Cida, logo “saquei” o que ela queria dizer com “ter expediente” e, naturalmente, o que seria “não ter expediente”, qualquer que fosse a tarefa designada.
Atualmente observo, em muitas ocasiões do dia a dia, muitas apresentações com os mais variados objetivos, executadas por gestores, vendedores, palestrantes, apresentadores televisivos, youtubers e empreendedores afins, e numa grande maioria delas uma total falta de expediente na arte de se apresentar.
Obviamente não nascemos apresentadores. Observamos, experimentamos, aprendemos, desenvolvemos as habilidades e adquirimos o tal “expediente”. Esta trajetória, o caminho que vai do indivíduo tosco para o sujeito hábil, é permeado de detalhes e envolve a observação apurada de muitas caracterísiticas, consequente treinamento e experimentação das qualidades observadas.
Quando encontramos um apresentador que tem expediente, aquele tipo que consegue entregar à audiência uma mensagem direta, de forma “saborosa” e sensacional (no sentido literal da palavra), normalmente o identificamos pela fluidez do discurso e aparente “despreocupação” com o aparato visual, com as marcações do roteiro, e a “cenografia” da apresentação,… Tais detalhes, além de outros tantos, apesar de existirem e serem muito necessários, à platéia parecem que não existem.
Em uma analogia ao ato de dirigir, para realizar uma boa apresentação utilizamos um roteiro, assim como para dirigir um automóvel é necessário utilizar um sistema de câmbio. Porém, ter expediente – tanto para apresentar quanto para dirigir – é ter a necessária destreza e, para obter o sucesso em ambas atividades é necessário, de certa forma, esquecer que eles – o roteiro e o sistema de câmbio – existem.
Apresentador com expediente é um Apresentador Fantástico! Ele utiliza diversos recursos, e o roteiro é apenas um deles. Tem tanto dominio da apresentação que pode focar sua atenção no ritmo de entendimento de sua audiência ao invés de seguir mecanicamente a ordem das telas do Powerpoint, ou se preocupar freneticamente com as marcações do roteiro.
Decorar rigidamente um texto a ser utilizado numa apresentação, como também uma sequência de movimentos mecânicos para conduzir um automóvel nas ruas, ajuda muito em ambas tarefas, mas muitas vezes dificultam, se tiver que pensar nelas em uma necessária improvisação perante os imprevistos da platéia ou do trânsito urbano.
Assim como o foco do apresentador que tem expediente é na audiência e não na apresentação, o foco do motorista que tem expediente é no movimento do transito e não no automóvel em si.
Relembrando: Até para improvisar é necessário ter controle do conteúdo e dos passos da apresentação: