Vivemos na era da informação. Nunca tivemos tanto conhecimento à nossa disposição. Estamos a alguns cliques de distância de milhares de artigos científicos, de saberes dos mais variados, de conteúdo de qualidade certificada ou… nem tanto. O mundo, literalmente, parece estar na palma das nossas mãos.
Mas existem universos complexos, cheios de mistérios e incertezas, e eles estão bem na nossa frente: as pessoas. E, diante de tal enigma, muitas vezes ignoramos o problema e agimos como se o outro fosse algo como nosso reflexo no espelho, ou pior, uma mera carcaça com uma carteira no bolso.
Durante alguns anos atuando em Teatro, aprendi que o meu maior desafio era contar a história que a minha personagem carregava da forma mais honesta e verdadeira possível para a minha plateia. A maior satisfação para um ator é perceber que o público entendeu o conflito, e se conectou com a mensagem. E por que não usar o mesmo empenho (o empenho de um ator) para estabelecer uma conexão verdadeira com a audiência, quando o público está em uma reunião, palestra ou sala de treinamento?
Para que a audiência compreenda a nossa mensagem, é necessário estabelecer compromisso dos dois lados: o apresentador deve se comprometer a falar o necessário, de forma clara e objetiva, e a audiência precisa estar comprometida a escutar e raciocinar sobre o que está sendo dito. Visto que não conseguimos controlar o nível de comprometimento do outro, só nos resta ajudá-lo a nos ajudar.
Essa ajuda virá através da compreensão dos desejos e necessidades daquela audiência. O que aquele público precisa? De que forma ele entenderá melhor a mensagem? As pessoas que estarão presentes estão realmente interessadas naquilo que eu tenho para dizer, ou no meu ponto de vista sobre o assunto?
E, claro, vale a pena se colocar em frente ao espelho e perguntar: eu quero simplesmente mostrar que domino aquele assunto, ou quero realmente partilhar o meu saber com estas pessoas?
Responder com honestidade a essa última pergunta pode ser um alívio e tanto para a consciência. E, muitas vezes, o que queremos mesmo é nos exibir, perceber a aceitação das pessoas – não sobre a mensagem, mas sobre nós mesmos. Sendo este um objetivo secundário (afinal, todos nós queremos ser aceitos), ainda podemos nos comprometer verdadeiramente com a audiência.
Comprometer-se significa priorizar aquilo que é importante para a audiência. E nem sempre é fácil, principalmente quando nos falta tempo, preparo ou curiosidade para investigar melhor o nosso público. Às vezes pecamos pela falta: falamos de temas relativamente complexos feito um trator, e disparamos jargões e termos técnicos para tudo quanto é lado como se fosse obrigação da audiência nos compreender. Às vezes pecamos pelo excesso: queremos formar especialistas como nós em apenas poucas horas, e nos esquecemos de entregar algo útil e aplicável pela audiência no tempo que temos disponível.
De volta à análise sobre o empenho do ator, é nítido o cuidado que existe em uma montagem teatral para se chegar ao melhor resultado possível: As peças de teatro fazem suas estréias somente após semanas ou meses de ensaios frequentes. E toda essa preparação é essencial para contar a história da melhor forma possível, durante alguns bons minutos, para quem estiver interessado em vivenciar aquela narrativa.
Mas será que a audiência irá trilhar o caminho que estamos propondo? Durante os ensaios estão previstas as reações da audiência. O treino nos ajuda a identificar se dentro da narrativa as objeções e conflitos foram devidamente reconhecidos e resolvidos. Também é nos ensaios que verificamos se estamos, de fato, atendendo aos desejos e necessidades do nosso público.
Os ensaios também nos ajudam a eliminar o ruído. Ao aparar as arestas e tirar de cena tudo aquilo que não é essencial, útil e necessário aos nossos espectadores, deixamos nossa mensagem mais nítida e mais fácil de ser compreendida. A faxina prévia em nossa comunicação não apenas a torna mais eficaz, como também a torna mais rápida.
Novamente, faz-se necessária a crítica ao roteiro para verificar se não alisamos demais o nosso conteúdo, plastificando a mensagem de tal forma a perder a sua permeabilidade e não permitir que a própria audiência também colabore no processo de aprendizado. Todo o ensaio e planejamento deve ser servir como repertório para, no momento oportuno, saber acolher as contribuições da audiência. Ademais, administrar os imprevistos também deve ser parte da preparação – e da evolução – da mensagem.
Por fim, entregar o melhor conteúdo possível de forma eficiente significa, verdadeiramente, valorizar o tempo da audiência, de maneira empática e alinhada as necessidades do público. Sem comprometer demais a agenda de nossa audiência, conseguimos obter dela o compromisso de se dedicar a nos escutar por algumas horas.
Qualquer situação de desequilíbrio entre o nosso preparo e a compreensão das necessidades da audiência irá se relfetir em semblantes cansados e desnorteados de nossos espectadores. A apresentação de temas complexos exige, sobretudo, que tenhamos empatia e consciência de que, ao errar a mão, perdemos a atenção do público.