Você já deve ter ouvido a frase: “a criatividade é a mãe da invenção”. Mas, vem cá…. existe invenção sem necessidade? Se a criatividade é mãe da invenção, arrisco dizer que a necessidade é pai. Faz parte da natureza humana resolver problemas. Mas só quando há um bom motivo para isso. Se tem um riacho de águas puras e cristalinas correndo pelo meu quintal, por que eu inventaria o aqueduto?
Às vezes precisamos fazer muito com pouco. Como preparar uma janta com ingredientes escassos, ou vedar um tanque de ácido sulfúrico usando chocolate. São as limitações, aliadas ao nosso conhecimento, curiosidade e capacidade de experimentação, que nos fazem superar as adversidades e evoluir.
Na semana passada eu apliquei um workshop na ABADS – Associação Brasileira de Assistência e Desenvolvimento Social. Fui parar no auditório da ABADS por iniciativa de um outro projeto social, o Andanças, que trabalha a dança como ferramenta de inclusão social. Tem mais sobre essa história aqui. Um dos membros do Andanças é o dançarino e massoterapeuta Rosimário Gomes. Rosimário é deficiente visual.
As limitações mudam a sua forma de enxergar os problemas
Ao final do workshop alguns participantes puderam mostrar o resultado do seu trabalho, fazendo uma rápida apresentação. Rosimário, que não pôde escrever na folha de atividades entregue aos participantes e nem tirar fotos dos slides com o seu celular, superou as expectativas e nos presenteou com uma Apresentação Fantástica! Espirituoso, fez graça por não ter anotado nada e ainda se aproveitou do clima de copa do mundo para dar o seu recado de uma forma marcante! Para ele, superar expectativas faz parte do dia-a-dia: o que você considera uma façanha é, com certeza, o jeito mais simples – e ainda assim espetacular – que ele encontrou de fazer aquilo.
O Rosimário vê o mundo de uma forma que eu jamais serei capaz. As limitações pela deficiência visual estão postas, e o fizeram ser extraordinário à sua maneira.
As limitações nos ajudam a definir uma estratégia
De limitações fúteis como a tela quebrada de um celular, passando pela sua condição financeira atual a limitações quase incapacitantes como a perda da visão: o rumo de nossas ações será definido pela forma como lidamos com essas situações.
E o que fazer quando você tem uma paixão incrível pela música, e um violão velho com apenas uma corda? Pergunte ao Brushy One String!
Quer ir mais longe? Experimente criar limitações e superá-las!
Você já jogou Minecraft? Seu personagem começa sozinho e precisa encontrar um abrigo e construir ferramentas para sobreviver. Fim. O jogo é só isso. Não tem uma narrativa, um objetivo… O sucesso do jogo é justamente fazer com que as pessoas possam criar tudo isso à sua maneira. Existem algumas comunidades e criadores de mapas e desafios, e jogadores audaciosos construindo coisas magníficas!
Um desses jogadores é o Zisteau. O lance dele é construir coisas absurdamente colossais, fazer as coisas sempre do jeito mais complicado e impor para si uma limitação ridícula, que o faz quebrar a cabeça e inventar soluções inovadoras.
Sair da zona de conforto não é fácil. Preferimos fazer as coisas como sempre fazemos, e buscar um desconforto só para poder sair dele – e vencer – parece uma demonstração de insanidade mental para muitas pessoas.
Mas foram os loucos que mudaram o mundo. De Nikola Tesla a Sergey Brin e Larry Page, os grandes gênios sempre tiveram que suportar rejeições. Aconteceu com eles e acontece com você também: experimente sair por aí procurando um jeito novo de fazer as coisas, impondo as limitações mais absurdas e tome para si o desafio de vencer a si mesmo. Então, observe a reação de quem vive ao seu redor… eles não imaginam o quanto você irá se desenvolver no processo!
Então pare de reclamar, observe e questione!
Pedro Panetto é, sem dúvida, um dos maiores expoentes no uso da proporção áurea aplicada ao design no Brasil. Se você gosta de design, arte, e é apaixonado por trabalhos primorosamente bem executados, como eu, vale a pena conhecer o trabalho dele.
E o que faz dele um designer diferente? O uso de grids e proporção áurea levados ao limite. Ele lê muito, estuda muito, observa, ensina, e usa a proporção áurea como uma limitação em seus projetos que o faz criar marcas incríveis, atemporais, e cheias de significado. Sou orgulhosamente fã, e aluna.
Nas apresentações você pode usar os mesmos princípios. Questione esses slides pavorosos que estão por aí, e que não ajudam ninguém a entender nada. Seus slides. Questione o tempo que você leva para dar o recado. A forma como você escreve. O que uma pequena dose de limitações poderia fazer por você, e te transformar em um melhor comunicador?