Contar estórias.
Mesmo que você não seja escritor ou roteirista, deve ter um vasto repertório de estórias. Algumas você ouviu, outras você viveu e, talvez, quem sabe, algumas delas você mesmo inventou.
E toda vez que você contou algumas dessas estórias havia, ali, um objetivo: convencer, ensinar, confirmar, entreter, prevenir…
As estórias nos permitem experimentar as sensações vividas pelo outro, seja esse outro alguém de carne e osso ou apenas um personagem. As estórias são aquelas que confirmam quem somos: nossos valores, nossas crenças, nosso entendimento sobre o mundo e sobre a nossa condição humana.
Também aprendemos muito com as estórias. Incrementamos nosso repertório de conceitos, entendemos as possibilidades, repensamos atitudes e muitas vezes alteramos nossas trajetórias.
Meus avós completaram recentemente 66 anos de casados. Impressionante, não é? Eles estão incrivelmente lúcidos e independentes, e sempre que os encontro sei que preciso parar para ouví-los um pouco. São muitos os causos conhecidos e experimentados ao longo dos anos, e eles têm lá os seus preferidos, que volta e meia retornam ao repertório.
Pude conviver bastante com eles quando criança. Aprendi muito através de suas estórias. Com as estórias deles entendi um pouco sobre mim. E me pego pensando no quanto poderia ter aprendido também com os meus avós paternos se estes não tivessem partido tão cedo.
No último final de semana realizamos mais uma edição do nosso workshop sobre apresentações rápidas: o Bala na Agulha. Tal como uma peça de teatro que fica em cartaz, a cada edição consigo perceber algo que não havia visto das outras vezes, aprimorando e consolidando o conhecimento para contar a mesma estória, várias e várias vezes, cada vez melhor, mais adequada àquele público e de forma mais viva, mais real. Como aqueles causos preferidos dos meus avós.
Durante o workshop incentivo os participantes a investigarem um pouco sobre a sua própria estória: o objetivo é encontrar o porquê daquele ofício. Por que eu me tornei designer? Por que eu faço o que eu faço? Certamente a resposta interessa e encanta o ouvinte.
E encanta porque no final das contas gostamos de uma boa estória. Nos conectamos através delas. Não é só sobre o outro que entendemos quando ele começa a falar de si: ao ouvir o outro, percebemos, enfim, detalhes da nossa própria estória, muitas vezes, esquecidos. Nossas verdadeiras pérolas, cases (de sucesso) escondidos.