As estórias são utilizadas pela humanidade como forma de transmitir experiências e conhecimentos desde antes da invenção da linguagem escrita. Mesmo com o avanço tecnológico e a enormidade de meios de comunicação disponíveis, as estórias continuam sendo usadas. E sabe por quê?
Porque estórias proporcionam conexões emocionais entre as pessoas, reproduzindo emoções e facilitando o entendimento das mensagens passadas.
Utilizamos estórias para ensinar, entreter, motivar, alegrar, impactar ou vender. Podemos afirmar que, se sabemos contar uma boa estória, não teremos qualquer dificuldade em nos comunicar com quem quer que seja.
Claro que quando mencionamos “uma boa estória” nos referimos a uma estória adequada ao objetivo e à situação onde a utilizaremos. Se a função da estória é promover a conexão emocional, nada mais certo que escolher a estória que transmita as emoções adequadas à plateia e ao motivo de contar a própria estória.
Isto será particularmente importante na criação de uma estória que faça parte de uma apresentação. Como já mostramos antes em outros textos, apresentações são preparadas para diversos fins e, na maioria das vezes, boas estórias ilustram os argumentos estruturais fundamentando as boas apresentações.
Não existem estórias sem personagens. E não existe uma boa estória sem um personagem principal. O herói que vive a aventura desenhada na estória. Aquele que sofre os reveses, que tem o sonho de mudar o mundo, que experimenta as adversidades, que muitas vezes sofre antes de aprender a lição final.
Na criação de uma estória existem alguns passos a serem cumpridos, cujo conteúdo detalharemos num próximo artigo, e, entre eles, um dos principais é a construção do personagem principal. Nosso herói será construído com a soma dos diversos detalhes que definiremos respondendo a muitas perguntas.
De onde ele vem e qual a cultura que ele traz do berço? Quais são suas caracteristicas físicas? Como ele anda, fala e se movimenta? Quais são seus costumes? Quais são suas habilidades e defeitos? Como ele enxerga e se relaciona com o mundo que o cerca? E por aí vai… estas e muitas outras perguntas definirão suas características físicas, cognitivas e emocionais numa construção o mais completa possível.
Personagens que entendemos, que reconhecemos e que de certa forma “fazem sentido” são baseados em modelos comportamentais já estudados e conhecidos pela humanidade durante a nossa memorável jornada saindo do topo das árvores e chegando nas grande metrópoles. Eles prontamente são aceitos e reconhecidos nas estórias bem montadas.
Estes modelos foram estudados e descritos pelo pai da psicanálise Carl Gustav Jung no início dos anos 1900 e receberam o nome de arquétipos. O fato de comporem o inconsciente coletivo da humanidade faz com que sejam reconhecidos em qualquer agrupamento social ao redor do mundo, não importando a cultura estabelecida.
Jung definiu quatro arquétipos principais, dando vazão aos principais impulsos humanos (maestria, liberdade, pertencimento e ordem), com cada um deles se subdividindo em mais três subtipos, totalizando 12 diferentes arquétipos (https://pt.wikipedia.org/wiki/Arquétipo). O estudo e conhecimento destes arquétipos é fundamental para criar personagens factíveis a qualquer estória.
O uso destes arquétipos “adaptados” em seus costumes para determinadas culturas, onde existem menos variações de modelos comportamentais “aceitos”, resulta nos personagens estereotipados, ou seja, estereótipos.
Considerando os arquétipos como conceitos compartilhados, consciente ou inconscientemente, pelos membros de uma cultura, diríamos que os estereótipos são as “formas” dadas a esses conceitos. Por exemplo, para o arquétipo “mago” temos o estereótipo “velho sábio de longas barbas que usa um manto”. Gandalf e Dumbledore são estereótipos de magos.
Estereótipos facilitam o entendimento e o desenrolar de uma estória quando inserida em determinada cultura, tendo porém como efeito colateral fazer com que as pessoas tomem por “naturais” coisas que são na verdade “culturais”, sendo a fonte de diversos preconceitos.
Lembremos que: um carioca pode ser trabalhador e um paulista pode ser farrista, um mago pode ser jovem, uma mulher pode ser policial, um homem heterosexual pode ser estilista e um homosexual pode ser fuzileiro naval, e por aí vai.
Já clichê é um termo utilizado para cenas de estórias onde os estereótipos e situações são mais do que conhecidas das plateias. E como tudo na vida, é preciso saber dosar e usar com moderação.
Clichês são aplicados em narrativas. Por exemplo, triângulos amorosos são um elemento recorrente das estórias, novelas e filmes. Romances entre a moça pobre e o rapaz rico, ou vice-versa, também são clichês. Um cara bronzeado que gosta de praia e festa e não é muito chegado ao trabalho seria uma situação clichê com um estereótipo de “carioca”.
Quando bem usados, clichês e estereótipos são elementos facilmente reconhecíveis, dão algum chão, alguma sensação de conhecimento e conforto para o expectador, principalmente se o ambiente for inusitado ou diferente – estórias de terror, fantasia ou ficção científica, por exemplo.
Na criação e desenvolvimento de estórias precisamos construir os personagens que terão lugar na narrativa. Para isso precisamos utilizar os arquétipos que compõem o inconsciente coletivo e criar o rápido reconhecimento da plateia, mas devemos dosar o uso de estereótipos pelo risco de criar algo muito raso ou mesmo ofensivo a determinadas plateias.