Permita-me começar com uma historinha…. O Alexandre é um excelente motorista. Ele respeita as normas de trânsito, é gentil com pedestres e com outros motoristas, não fica dando uma de espertinho, não enrola nos semáforos, não estica as marchas e cuida bem do carro. Só tem um probleminha: ele odeia dirigir. Simplesmente odeia. Quando o faz, é por pura obrigação ou necessidade.
Há dois anos o Alexandre se desfez do carro e como era de se esperar, não sentiu falta alguma.
Que inveja desse tal Alexandre, não é, caro leitor? Porque talvez você também não goste de dirigir, mas precise fazê-lo. Ou talvez você não goste de fazer apresentações, mas não há como fugir delas: fazem parte do nosso dia-a-dia, como dirigir num trânsito caótico de uma grande metrópole.
Bom, se você não pode escapar de fazer apresentações, palestras ou pequenas reuniões, tente ao menos se divertir de alguma forma. Há quem não abra mão de uma boa música ao volante: é uma maneira de tornar a jornada menos sofrida ou desgastante e, quem sabe, divertida.
Então como se divertir fazendo apresentações? A minha primeira dica é:
Crie um objetivo secundário, só seu, que transforme a apresentação em um jogo que você queira jogar.
Jogo = diversão. Gamefique sua apresentação. Pode ser uma disputa contra o relógio, pode ser um desafio de roteiro, de slides, de figurino. Um jogo de palavras, rimas, música, algo que tenha a ver com você.
Quer um exemplo? Meu sócio, certa vez, montou uma palestra para um grupo de empresários e criou um desafio para si mesmo: não dizer a palavra “NÃO” durante sua apresentação. Na primeira vez ele estava indo muito bem, até que no finalzinho, já no encerramento, o tal advérbio escorregou por entre seus lábios e foi direto pros ouvidos da platéia. Para os ouvintes, garanto, não fez diferença alguma, mas para o meu sócio, sim. Nas demais ocasiões em que ele apresentou a mesma palestra, conseguiu vencer a si mesmo em seu desafio mental.
Felizmente o meu sócio gosta de fazer apresentações e buscava ali apenas um auto-desafio, mas veja: estamos falando de uma bobagem, de algo que talvez seja imperceptível para a platéia, mas que é importante para você e que irá te ajudar a atingir o objetivo principal da apresentação com um pouco mais de satisfação.
Eu já fiz apresentações ficando muda a maior parte do tempo. Já falei com sotaque, já criei musiquinha, já fingi que estava lendo um texto errando as pausas e as vírgulas para mostrar como não se deve fazer. Claro que tudo isso tinha a ver com o meu objetivo principal, mas o desafio ali era pessoal: fazer algo que eu nunca havia feito, algo novo, vencer a mim mesma e, com isso, me divertir.
Mas às vezes a gente quer que esse desafio adicional seja percebido pelas pessoas. Ou quase isso… é nossa segunda dica:
Coloque um easter-egg na sua apresentação.
Se no primeiro exemplo a ideia era criar um jogo para você jogar durante a apresentação, agora o convite é criar um jogo que só algumas pessoas da platéia irão jogar: aquelas que desvendarem o segredo e conseguirem acessar a fase secreta!
Insira algo que tem a ver com você e que fique quase escondido… um easter-egg!
Pode ser o refrão de uma música que toca antes da apresentação, pode ser algo nos slides, pode ser um detalhe em uma história dentro do seu roteiro. Pode ser a estampa da sua camiseta: algo que poucas pessoas percebam, ou talvez ninguém note, mas está ali. E você sabe. E quem perceber a jogada vai entender a brincadeira e conectar-se imediatamente com você.
Certa vez preparei os slides de uma apresentação para um cliente cujo tema era senhas. Um dos slides tinha vários logotipos conhecidos: Facebook, LinkedIn, Spotify, etc… Mas tinha um que o meu cliente – que adora jogos de computador – reconheceu de cara: era o logo da Steam, uma plataforma online de jogos. Para a maior parte das pessoas que assistiriam àquela apresentação, aquilo era só um desenho. Não importa: era um “segredo” ali, escondido, que fazia sentido para ele. Um enigma que só poderia ser decifrado por poucos. E esses poucos são importantes: pessoas que tem algo em comum com você, que podem estabelecer uma conexão valiosa, e que serão a sua recompensa pessoal pelo esforço daquela apresentação.
Vale reforçar algo aqui: Para gerar identificação com a platéia você precisa revelar algo de si mesmo. Lembre-se: as pessoas fazem negócios com pessoas, e não com empresas. Precisa ter verdade ali ou então você não irá convencer. E quer algo mais verdadeiro do que mostrar para as pessoas que esse seu jeitão é sempre o mesmo, em público ou em particular?
Por fim, sabe qual a diferença entre uma conversa e uma apresentação? Basicamente nenhuma. Talvez o que mude seja o número de pessoas e a forma como elas interagem, mas não tem muito segredo além disso. Tirando a pressão fica mais fácil, garanto. E procure se divertir no processo: traga seus hobbies e suas paixões com você pra dentro do palco. Não há melhor companhia do que a sua própria!
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